COMO UTILIZAR A PSICOMOTRICIDADE NOS ATUAIS PROGRAMAS DE NATAÇÃO EM CLUBES E ACADEMIAS
10:16:00“Nadar, para o seu humano, não é genético, é um processo adaptativo para sua sobrevivência e domínio corporal no meio líquido”.
Psicomotricidade não é
um método em especial, é uma ciência existente há quase um século, cujo o berço
foi a França, com grandes pesquisadores como Dupré, Wallon, Ajuriaguerra e até
hoje com o professor Vitor da Fonseca. Ela pode e deve ser aplicada numa grande
gama de áreas, como a da saúde, do esporte, da educação, em nível preventivo e
terapêutico.
Mas o que constatamos
atualmente é que o seu conhecimento profundo (teórico e prático) está muito mal
divulgado entre os profissionais, principalmente nos atuais programas da natação
em clubes e academias. Muitos acreditam que o seu trabalho é psicomotor, só
porque dá valor a tradicionais aspectos... Outros acham que os métodos tradicionais são os mais
eficazes...
Bem, para que
possamos justificar a nossa filosofia de que a psicomotricidade é benéfica,
quando aplicada corretamente em qualquer método de aprendizagem, relatamos
abaixo uma pesquisa com os subsídios metodológicos seguindo fundamentos
psicomotores a serem repeitados nos
programas de aprendizagem da natação.
Alguns animais, como
os peixes, anfíbios, répteis e alguns mamíferos, possuem substratos
neurológicos, mas outros não possuem padrões respiratórios e motores adequados
de subsistência na água.
O homem, apesar do
seu desenvolvimento intraurino no líquido aminiótico, de seu reflexo natório e
epligóteo, necessita aprender nadar.
Em terra há uma
integração tônica de gravidade para a postura bípede, já na água há uma
alternância da função gravitacional (daí alguns deficientes motores atingirem a
sensação de liberdade de movimento, quando na água).
A grandiosidade de estímulos que a água
promove constrói uma nova arquitetura psicomotora no individuo. Desde a
tonicidade (em função da gravidade), o equilíbrio (devido a inversão da postura
corporal, da vertical para horizontal), a imagem corporal (devido aos limites
do “envelope corporal” em contato com a água e não com o ar) até a
linguagem (associada ao processo
respiratório). Isso tudo pode produzir uma facilidade adaptativa como também
uma total inadaptação no meio líquido.
Na água a integração
sensorial deve ser “aprendida”, Isso só ocorrerá se houver condições de
seguranças, conforto e prazer. O comportamento aquático dependerá da integração
de dados que o cérebro organizar e o corpo experimentar. A todo instante estão
entrando, através do corpo, informações táteis pelos olhos, ouvidos, pele,
músculos, que enviadas ao cérebro modificam a posição e movimentação do corpo
em nível de gravidade, de deslocamento e flutuação.
Todas essas
informações passam pelo tráfego neurológico dando respostas corporais adequadas
ou inadequadas, dependendo de sua organização no cérebro.
Aprender
subentende-se uma tomada de consciência do corpo na sua totalidade vivida numa
realidade envolvente.
A VISÃO DOS ESTUDIOSOS
Ajuriaguerra- aprendizagem-corpo
- corpo agido
- corpo ativo
- corpo transformador
Corpo agido –
receptor do outro e do meio
- Organização do
alicerce motor
Corpo ativo-
expectador em relação ao outro e ao meio
- Organização do
plano motor
Corpo
transformador-agente com o outro e no meio.
- Organização da
modificação do movimento
Para aprender,
segundo Ajuriaguerra, o corpo passa por várias transformações, desde o corpo
vivido ao corpo representado, passando pelo corpo percebido e pelo corpo
conhecido.
Dessa forma é que
devemos encarar a aprendizagem da natação, segundo esse autor.
Ajuriaguerra –
hierarquia somatognósica agida - atuante- transformadora. Conclui-se daí a
perspectiva trifásica da aprendizagem de natação.
PRIMEIRA FASE-SEGURANÇA E ADAPTAÇÃO
Adaptar-se ao meio
líquido não significa reproduzir movimentos e deslocar-se na água, mas sim
(como bebês) implica no surgimento de uma integração polissensorial e de uma
série de padrões motores adaptativos subaquáticos e aquáticos, expiratórios,
bucais e epiglóticos, que podem ser atingidos numa dependência mediatizadora
(integração social, sobre a postura do professor, como elemento mediatizador:
saber pegar, dar suporte à cabeça, atenção a segurança gravitacional, vigiar as
reações faciais e mímicas, segurar a criança face-a-face, tocar com as mãos,
suportar vertical e horizontalmente, a isso poderíamos chamar de relação.
Se considerarmos a
aprendizagem de natação como uma estimulação precoce um processo facilitador do
desenvolvimento neuropsicomotor da criança, devemos acreditar na necessidade do
mediatizador (mãe, pai, professor, etc.). Dessa forma conclui-se que a natação
é um pretexto para que a criança atinja a autoconfiança, adaptação de suas
necessidades especificas de seu desenvolvimento. Portanto, esta fase é
essencial para a integração sensorial e a organização neuropsicomotora
necessária à motricidade aquática. Se essa fase de aprendizagem é bem
organizada, a criança terá uma autonomia motora aquática mais facilitada, mais
eficiente, mais satisfatória e mais criativa.
SEGUNDA FASE: ENRIQUECIMENTO ADAPTATIVO-PROCESO DE INDEPENDÊNCIA E DE
SEGURANÇA
“Aprender a nadar não
é sinônimo de aprender uma só técnica (quer assimétrica-crawl e costas, quer
simétrica-peito e golfinho), mas antes, harmonizar sinergias respiratórias com
sinergias motoras, equilibrativas e econômicas, melódica e eficaz”.
Aprendizagem da
natação requer:
• Organização
material: Piscina, Superfície, Profundidade, Temperatura e Brinquedos,
• Organização
pedagógica: Identificação das necessidades,
Perfil de áreas fortes e fracas, Programa e planejamento e
Sistema motivacional.
• Organização
Técnica: Compreensão do ato natatório, Flutuação, Respiração, Propulsão, Conhecimentos dos
princípios biomecânicos e Interação do corpo na água-densidade-turbulência
TERCEIRA FASE
- Deslocamentos
aquáticos coordenativos e construtivos
- Enriquecimento
crescente evolutivo e total da criança
- Iniciação
desportiva e uma plataforma pedagógica e opcional da competição.
A aprendizagem da
natação é uma função do sistema nervoso, consequentemente a natação, desde que
tenha em atenção os –pressupostos do desenvolvimento psicomotor da criança
acima abordados, promove e maximiza a capacidade do seu cérebro para aprender a
apreender, e este principio é em ultima análise, a primeira finalidade de
qualquer aprendizagem. Daí concluímos que o que falta nos atuais programas de
aprendizagem da natação é a tomada de consciência dos profissionais em relação
ao ser humano que possuem em suas mãos.
Revista Nadar –
Natação Infantil
Cacilda G. Velasco
3 comentários
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSou fisioterapeuta, gostaria de saber onde encontro curso de psicomotricidade aquática?
ResponderExcluirNo momento em São Paulo não temos nenhum curso ativo nessa área, mas se quiser que lhe enviemos divulgação a respeito, deixe-nos seus dados pessoais e o incluiremos em nosso cadastro de interessados.
Excluir