A PSICOMOTRICIDADE E A CRIANÇA SAUDÁVEL-FUNDAMENTAÇÃO


O desenvolvimento mental está estritamente ligado ao desenvolvimento motor, que envolve gestos e ações, globalizados a princípio e depois refinados. Quando uma criança olha um objeto aos 5 meses de idade, esta ação está sendo precedente para outras, como: tocar (mais tarde) esse objeto, manipulá-lo, conhecê-lo... E o modo (gesto) como esta criança vai usar o seu corpo nessa ação pode nos fornecer dados como o grau de sua maturação orgânica, psíquica, mental e motora. Wolf considera que as mãos são as partes visíveis do cérebro e que, portanto, funções como o tato, apreensão, são meios de conhecimentos que estabelecem um contato com o mundo exterior e levam respostas importantes para o cérebro. Através do tato, por exemplo, podemos perceber, com os pés, que tipo de terreno estamos pisando (se alto, se fofo, se duro) e transmitir para o cérebro conceitos concretos para após responder qual atitude a ser tomada (andar correndo, devagar, equilibrar-se, etc.)

Durante a primeira infância a motricidade e o psiquismo estão confundidos, são dois aspectos indissolúveis de uma mesma organização. Já na segunda infância (dos 3 aos 8 anos) vemos a entrada em funções de territórios nervosos ainda adormecidos as aquisições motoras, neuromotoras e psicomotoras, se efetuam agora a um ritmo mais rápido: a tomada de consciência do próprio corpo, a afirmação de lateralidade, a dominância lateral (definida por volta dos 7 anos), a orientação com relação a si mesmo e adaptação do mundo exterior.

A motricidade desempenha um papel importante e de primeira ordem no desenvolvimento do caráter e no comportamento social da criança. Há precedentes como: para poder fixar a sua atenção em determinada situação, a criança deve ser capaz de controlar-se e ter domínio do próprio corpo e inibição voluntária. Para aprender e poder utilizar dos meios de expressão gráfica, a criança necessita ver, lembrar e transcrever num sentido bem definido da esquerda para a direita, proporcionando hábitos motores e psicomotores perfeitos.
A educação psicomotora seria a ação Pedagógicas e Psicológica que utiliza aos meios da Educação Física, com um fim terapêutico e curativo, no caso de crianças com problemas motores, físicos e ou mentais. O domínio do comportamento. O esquema corporal é a organização das sensações relativas ao próprio corpo em relação com os dados do mundo exterior.

A percepção do controle do próprio corpo, ou a exteriorização das sensações relativas de uma outra parte do corpo, um equilíbrio postural econômico, uma lateralidade bem afirmada, uma dominância lateral bem definida, são itens importantes para que a criança venha a acompanhar bem e sem problemas o processo de aprendizagem. O corpo não é simplesmente um mecanismo neuromuscular aperfeiçoado, nem uma massa inerte que sofre passivamente. É um instrumento de participação afetiva da criança e nesta relação o corpo não é somente sofrido mas também utilizado.


É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos, o mundo dos outros e o seu próprio mundo, descobre o mundo auto descobrindo-se.


COMO UTILIZAR A PSICOMOTRICIDADE NOS ATUAIS PROGRAMAS DE NATAÇÃO EM CLUBES E ACADEMIAS


“Nadar, para o seu humano, não é genético, é um processo adaptativo para sua sobrevivência e domínio corporal no  meio líquido”.


Psicomotricidade não é um método em especial, é uma ciência existente há quase um século, cujo o berço foi a França, com grandes pesquisadores como Dupré, Wallon, Ajuriaguerra e até hoje com o professor Vitor da Fonseca. Ela pode e deve ser aplicada numa grande gama de áreas, como a da saúde, do esporte, da educação, em nível preventivo e terapêutico.

Mas o que constatamos atualmente é que o seu conhecimento profundo (teórico e prático) está muito mal divulgado entre os profissionais, principalmente nos atuais programas da natação em clubes e academias. Muitos acreditam que o seu trabalho é psicomotor, só porque dá valor a tradicionais aspectos... Outros acham que  os métodos tradicionais são os mais eficazes...

Bem, para que possamos justificar a nossa filosofia de que a psicomotricidade é benéfica, quando aplicada corretamente em qualquer método de aprendizagem, relatamos abaixo uma pesquisa com os subsídios metodológicos seguindo fundamentos psicomotores a serem  repeitados nos programas de aprendizagem da natação.
Alguns animais, como os peixes, anfíbios, répteis e alguns mamíferos, possuem substratos neurológicos, mas outros não possuem padrões respiratórios e motores adequados de subsistência na água.

O homem, apesar do seu desenvolvimento intraurino no líquido aminiótico, de seu reflexo natório e epligóteo, necessita aprender nadar.

Em terra há uma integração tônica de gravidade para a postura bípede, já na água há uma alternância da função gravitacional (daí alguns deficientes motores atingirem a sensação de liberdade de movimento, quando na água).

A grandiosidade de estímulos que a água promove constrói uma nova arquitetura psicomotora no individuo. Desde a tonicidade (em função da gravidade), o equilíbrio (devido a inversão da postura corporal, da vertical para horizontal), a imagem corporal (devido aos limites do “envelope corporal” em contato com a água e não com o ar) até a linguagem  (associada ao processo respiratório). Isso tudo pode produzir uma facilidade adaptativa como também uma total inadaptação no meio líquido.

Na água a integração sensorial deve ser “aprendida”, Isso só ocorrerá se houver condições de seguranças, conforto e prazer. O comportamento aquático dependerá da integração de dados que o cérebro organizar e o corpo experimentar. A todo instante estão entrando, através do corpo, informações táteis pelos olhos, ouvidos, pele, músculos, que enviadas ao cérebro modificam a posição e movimentação do corpo em nível de gravidade, de deslocamento e flutuação.

Todas essas informações passam pelo tráfego neurológico dando respostas corporais adequadas ou inadequadas, dependendo de sua organização no cérebro.
Aprender subentende-se uma tomada de consciência do corpo na sua totalidade vivida numa realidade envolvente.

A VISÃO DOS ESTUDIOSOS
Ajuriaguerra- aprendizagem-corpo
- corpo agido
- corpo ativo
- corpo transformador
Corpo agido – receptor do outro e do meio 
- Organização do alicerce motor
Corpo ativo- expectador em relação ao outro e ao meio
- Organização do plano motor
Corpo transformador-agente com o outro e no meio.
- Organização da modificação do movimento
Para aprender, segundo Ajuriaguerra, o corpo passa por várias transformações, desde o corpo vivido ao corpo representado, passando pelo corpo percebido e pelo corpo conhecido.
Dessa forma é que devemos encarar a aprendizagem da natação, segundo esse autor.
Ajuriaguerra – hierarquia somatognósica agida - atuante- transformadora. Conclui-se daí a perspectiva trifásica da aprendizagem de natação.


PRIMEIRA FASE-SEGURANÇA E ADAPTAÇÃO

Adaptar-se ao meio líquido não significa reproduzir movimentos e deslocar-se na água, mas sim (como bebês) implica no surgimento de uma integração polissensorial e de uma série de padrões motores adaptativos subaquáticos e aquáticos, expiratórios, bucais e epiglóticos, que podem ser atingidos numa dependência mediatizadora (integração social, sobre a postura do professor, como elemento mediatizador: saber pegar, dar suporte à cabeça, atenção a segurança gravitacional, vigiar as reações faciais e mímicas, segurar a criança face-a-face, tocar com as mãos, suportar vertical e horizontalmente, a isso poderíamos chamar de relação.
Se considerarmos a aprendizagem de natação como uma estimulação precoce um processo facilitador do desenvolvimento neuropsicomotor da criança, devemos acreditar na necessidade do mediatizador (mãe, pai, professor, etc.). Dessa forma conclui-se que a natação é um pretexto para que a criança atinja a autoconfiança, adaptação de suas necessidades especificas de seu desenvolvimento. Portanto, esta fase é essencial para a integração sensorial e a organização neuropsicomotora necessária à motricidade aquática. Se essa fase de aprendizagem é bem organizada, a criança terá uma autonomia motora aquática mais facilitada, mais eficiente, mais satisfatória e mais criativa.


SEGUNDA FASE: ENRIQUECIMENTO ADAPTATIVO-PROCESO DE INDEPENDÊNCIA E DE SEGURANÇA

“Aprender a nadar não é sinônimo de aprender uma só técnica (quer assimétrica-crawl e costas, quer simétrica-peito e golfinho), mas antes, harmonizar sinergias respiratórias com sinergias motoras, equilibrativas e econômicas, melódica e eficaz”.
Aprendizagem da natação requer:
• Organização material: Piscina, Superfície, Profundidade, Temperatura e  Brinquedos,
• Organização pedagógica:  Identificação das necessidades, Perfil de áreas fortes e fracas, Programa e planejamento e Sistema motivacional.
• Organização Técnica: Compreensão do ato natatório, Flutuação,  Respiração, Propulsão, Conhecimentos dos princípios biomecânicos e Interação do corpo na água-densidade-turbulência


TERCEIRA FASE

- Deslocamentos aquáticos coordenativos e construtivos
- Enriquecimento crescente evolutivo e total da criança
- Iniciação desportiva e uma plataforma pedagógica e opcional da competição.

A aprendizagem da natação é uma função do sistema nervoso, consequentemente a natação, desde que tenha em atenção os –pressupostos do desenvolvimento psicomotor da criança acima abordados, promove e maximiza a capacidade do seu cérebro para aprender a apreender, e este principio é em ultima análise, a primeira finalidade de qualquer aprendizagem. Daí concluímos que o que falta nos atuais programas de aprendizagem da natação é a tomada de consciência dos profissionais em relação ao ser humano que possuem em suas mãos.


Revista Nadar – Natação Infantil

Cacilda G. Velasco

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