CORPO DEFICIENTE ou EFICIENTE na água?
12:40:00
O ‘’culto ao corpo’’ na atual sociedade é um lema
na formação de nossos profissionais de educação física. Apesar de muitas
campanhas médicas e da mídia em relação à qualidade de vida, ainda persiste os
padrões estéticos quando falamos de pessoas comprometidas com alguma
deficiência física, sensorial e/ou intelectual. São tantos aqueles que precisam
de ajuda e tão poucos dispostos a ajudar...
Sabendo-se que o deficiente
é aquele que não consegue disfarçar, devemos tomar a postura, além de
educadores físicos, de terapeutas, ‘’cirurgiões plásticos’’ da emoção e da
ação.
Há mais de 30 anos temos
tido em nosso trabalho junto à Psicomotricidade, o objetivo fundamental de
promover o bem-estar, a restauração da autoconfiança, muitas vezes perdida, e o
prazer da realização. Verificamos que os benefícios surgem rapidamente ou a
longo prazo, dependendo do nível e da intensidade do comprometimento. Enquanto
profissional devemos tentar restituir-lhes a autonomia necessária, desde que
soubermos do patamar que essa pessoa poderá atingir na execução dos exercícios.
O importante é que essa pessoa possa sentir-se o menos diferenciada possível em
relação ao grupo e às atividades da vida diária.
Uma análise retrospectiva da
história da educação especial no Brasil evidencia que sua trajetória acompanha
a evolução da conquista dos direitos humanos. Houve época em que pessoas com
deficiências eram sacrificadas porque nada de útil representavam para a
sociedade.
Durante séculos, os
deficientes foram considerados seres distintos e à margem dos grupos sociais. A
medida em que o direito do homem à igualdade e à cidadania tornaram-se motivo
de preocupação dos pensadores, a história da educação especial começou a mudar.
A histórica rejeição cedeu
lugar à compaixão e às atitudes de proteção e filantropia. Até hoje perdura
isso, e muitas vezes prevalece, apesar de todos os esforços que se tem
realizado para que esta postura seja substituída pelo reconhecimento da
igualdade de direitos a todo cidadão, sem discriminações.
Milenarmente é sabido das
propriedades terapêuticas da água e das diferentes formas de utilizá-la com os
deficientes. Os mais renomados profissionais da área da saúde se curvam aos
seus benefícios, mas sempre se deparam com algumas dificuldades na sua
utilização. A água é um elemento capaz de diminuir as diferenças entre os
indivíduos e, em alguns casos, até torná-los iguais, já que nela a distinção
deficiente/não-deficiente fica menos nítida. Para um tratamento em que o lado
emocional do paciente é um fator decisivo, a água novamente ganha importância
pois proporciona prazer e bem estar.
Dificuldades:
Por parte dos deficientes: escassez de recursos
financeiros; desigualdade de oportunidades oferecidas nas regiões onde habita e
o desinteresse e resistência na maioria das entidades para aceitá-lo como
alunos-pacientes.
Por parte das entidades: acessibilidade e estrutura
física das piscinas inadequada para a elaboração de programas de trabalho
especial; despreparo teórico e prático dos profissionais para esse tipo de
atendimento; carência de técnicas para a orientação, acompanhamento e avaliação
de programas a serem desenvolvidos; insuficiência de propostas inovadoras, como
alternativas educacionais e/ ou terapêuticas; inadequação e carência de
materiais e equipamentos para um atendimento especializado e falta de programas
adequados para a orientação da família do deficiente.
Público alvo:
Pode ser denominado de pessoa especial, aquela que
por apresentar necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio
das aprendizagens correspondentes a sua idade, requer recursos pedagógicos e
metodologias específicas.
Genericamente chamados de
portadores de deficiência (intelectual, física, sensorial ou múltipla),
portadores de condutas típicas (problemas comportamentais) e portadores de
altas habilidades (superdotados).
A pessoa portadora de deficiência
é a que apresenta, em comparação com a maioria das pessoas, significativas
diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos
ou adquiridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades em sua
interação com o meio físico e social.
A pessoa com necessidades
especiais é aquela que apresenta, em caráter permanente ou temporário,
algum tipo de deficiência física, sensorial, cognitiva, múltipla, condutas
típicas ou altas habilidades, necessitando, por isso, de recursos
especializados para desenvolver mais plenamente o seu potencial e/ou superar ou
minimizar suas dificuldades.
Intervenções:
Qualquer programa de trabalho junto a essas
pessoas deve se basear num processo que vise promover o seu desenvolvimento e
que abranja diferentes níveis e graus de comprometimento. Deve se fundamentar
em referências teóricas e práticas compatíveis com as necessidades específicas
de cada aluno/paciente. O processo deve ser integral, fluindo desde a
estimulação essencial até a aprendizagem de técnicas, tendo como finalidade
formar cidadãos conscientes e participativos, independentemente de suas
deficiências.
Para aqueles que ainda a desconhecem, a
Psicomotricidade é uma ciência, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde.
Ela poderia ser definida com: a realização de um pensamento,
através de um ato motor coeso, econômico e harmonioso, exigindo para isso uma
atividade equilibrada.
Sendo uma ciência de
equilíbrio, podemos utilizá-la em vários processos, para prevenir e/ou
reabilitar problemas originados da falta de harmonia entre o corpo/mente/
prazer.
Objetivos:
- Normalizar, entendendo-se aqui não tais pessoas, mas sim o contexto em que se desenvolvem, ou seja, oferecer aos portadores de necessidades especiais, modos e condições de vida diária o mais semelhante possível às formas e condições de vida do resto da sociedade.
- Reabilitar, promovendo-se um conjunto de medidas de natureza médica, social educativa e profissional, destinadas a preparar ou reintegrar o indivíduo, com o objetivo de fazê-lo alcançar o maior nível possível de sua capacidade ou potencialidade.
- Integrar, através de um processo dinâmico de participação das pessoas num contexto relacional, legitimando sua interação nos grupos sociais. A integração implica em reciprocidade.
Profissionais:
Os profissionais são todos aqueles que conhecem e
sabem lidar com o corpo, que souberem a teoria e a prática das propriedades
físicoquímicas da água e possuam conhecimento e esclarecimento das deficiências
em geral e seus respectivos comprometimentos.
Encontraremos alguns obstáculos junto a
determinadas classes profissionais, pois alguns consideraram-se ‘’credenciados
para’’ e outros ‘’aptos para’’. O que conta é o desejo de cada um em se
relacionar com “pessoas diferentes”.
Como nomear esse trabalho:
Mesmo sendo a nomenclatura um problema semânico,
pois hidro significa água e terapia significa meio, estratégia,
programa especial, processo de cura ou natação,
algo deverá ser aprendido pelo homem...se locomover na água.
Chamamos de natação adaptada o trabalho
realizado em relação aos processos de aprendizagem das técnicas dos nados e terapia,
quando estamos tentando utilizar de estratégias terapêuticas para processos
reabilitatórios. Tanto um como outro são recursos importantíssimos nos
tratamentos em algumas especialidades médicas, tais como ortopedia, neurologia,
pediatria, reumatologia, cardiologia, geriatria e até clínica médica. Temos uma
experiência pessoal, com excelentes resultados em casos de pacientes
convulsivos, com deficiência músculo-postural e cardiorrespiratória,
deficiência mental, visual e auditiva, paralisia cerebral, autismo, entre
outras patologias. Isto ocorre porque nessas atividades os pacientes
experimentam todos seus mecanismos e estruturas visuais, auditivas, táteis e
cinestésicas, sendo que, se alguma delas está lesada, automaticamente outra, ou
outras, serão mais desenvolvidas na água, além de lhes promover saúde e prazer.
Lucro
$aber
que, pelo meno$ você, não $e ab$teve de tentar fazer um pouco melhor a vida de
um $emelhante.
Consultas Profissionais Adequadas:
- Respeitar a individualidade de cada ser humano.
- Estabelecer uma relação afetiva de ajuda e não de dependência.
- Utilizar a linguagem corporal como meio de comunicação.
- Apesar de realizar um planejamento de trabalho individualizado, permitir a livre iniciativa, entendendo que a deficiência não é sinônimo de doença.
- Respeitar a pessoa completa que o deficiente é: um sujeito que tem uma história de vida, vive num contexto social e em condições singulares interagindo com direitos e deveres.
- Procurar estabelecer uma relação domiciliar, isto é, tentar participar do dia a dia da pessoa demonstrando o seu interesse pelo que ela é.
- Manter contato com os demais profissionais que assistem o paciente programando um trabalho em conjunto, produzindo assim maiores e melhores resultados.
- Estabelecer a participação dos deficientes em grupos de conveniência e lazer, visando a sua integração na sociedade.
Cacilda Gonçalves Velasco,
professora, pedagoga e
psicomotricista
Revista Empresário Fitness e Health/
2010
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